A sombra é política essencial

Devo reconhecer a minha incompreensão face à política da autarquia de Benavente em relação às sombras nos espaços públicos. Benavente é um Concelho inserido no distrito de Santarém, um distrito fortemente fustigado pelas ondas de calor desde a primavera até ao outono. Embora as temperaturas médias sejam de 30º nessa altura, não são raros os dias que chegam perto ou ultrapassam os 40º. No quadro da vila de Benavente, por exemplo, verifica-se uma incompreensível desatenção à importância das árvores no arrefecimento e melhoria da qualidade do ar. Isto torna-se mais gravoso nos parques infantis enquanto espaços de lazer destinados às crianças, que são absolutamente infrequentáveis durante a maior parte do dia durante todo o verão. A este cenário acresce (i) a situação dos equipamentos escolares, carentes de árvores e alternativas de sombras para as crianças e jovens, que realizam atividades exteriores em condições pouco salubres, (ii) o facto de várias ruas da vila carecerem de soluções arborizadas de modo a baixarem a temperatura e permitirem a circulação de pessoas.  A obra realizada na Praça da República, que visava a requalificação estética foi um evidente fracasso, retirando as sombras das árvores e substituindo por umas espécies de para-sol cónicos que não cumprem o efeito, nem ofereceram uma valorização estética. 

Vale referir que plantar árvores em ambientes urbanos tem uma série de benefícios cientificamente comprovados, não apenas em termos de baixar a temperatura, mas também na melhoria da qualidade do ar e da qualidade de vida dos residentes. Um estudo publicado em “Nature Communications” destaca que árvores em áreas urbanas ricas podem diminuir as temperaturas até 4º no sul da Europa. Outro estudo, publicado pela USDA Forest Service, mostra como árvores e arbustos urbanos contribuem significativamente para a remoção de poluentes atmosféricos, como ozónio, PM10, dióxido de nitrogénio, dióxido de enxofre e monóxido de carbono, melhorando a qualidade do ar nas cidades. De igual modo, espaços verdes e a presença de árvores em ambientes urbanos estão associados a benefícios significativos para a saúde mental e física, incluindo redução do stress, melhoria na saúde mental e incentivo à atividade física. De acordo com pesquisas publicadas na “Nature” e MDPI, pessoas que vivem perto de áreas verdes têm menos problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade. Além disso, a proximidade a espaços verdes tem sido associada a melhores resultados de saúde cardiovascular e menor mortalidade geral. 

Há, portanto, razões de sobra (aliás, razões de sombra) para que exista uma política de espaços verdes e arborização no Concelho de Benavente, capaz de reduzir as temperaturas, facilitar a circulação de pessoas nas ruas, permitir o arrefecimento de habitações, propiciar o uso de equipamentos exteriores de lazer, e ao mesmo tempo oferecer uma imagem de “Concelho Verde”.  O projeto “Forest of Belfast” transformou a cidade ao plantar quase 200.000 árvores desde 1998, integrando espaços verdes em áreas urbanas e proporcionando numerosos benefícios ambientais e sociais. Caso paradigmático é o de Washington, com quase 2 milhões de árvores que contribuem para a redução da poluição e dos custos de energia. ​


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Comentários

Um comentário a “A sombra é política essencial”

  1. Avatar de Silvestre Pedrosa
    Silvestre Pedrosa

    Parabéns, de nada serve o seu comentário porque o poder não o lerá certamente e se o ler pensará que você não percebe nada de horta.

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